quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Clocks 2

O tempo dói
Velado e quieto
Leva pra longe
O que vivemos de bom
Lento e pouco
Imprime distância do futuro
Estanca a urgência
Do momento quente
Esfria o sangue
E obriga a pensar
A pensar tanto
Que já não sentimos mais
E ainda assim
Sentimos muito
E o tempo que dói agora
Inverte a direção de novo
Como o vento
Que a gente não vê
Apesar de saber que ele sopra
E passa, como tudo
Então espero
Espero que passe
Ainda que ao largo
Do que realmente sinto

Temos ou não temos

Estática
Tic tac
E o som oco do meu peito
Reverbera e grita
Onde está você?
Não sei se sente
Ou se não sente
Só sei que mente
Ao que sinto
Não responde
Ao que quero
Então minto
E me faço de forte
E suporto o que dói
E conto com a sorte
Que me ajuda aos poucos
Mas não resolve
Então me acalmo
Porque se não resolve
Pelo menos me distrai
Se não me adianta
Pelo menos me dá paz
Que se não é real
É tão real quanto o que temos
Ou não temos

Anseio

Eu anseio por teus beijos

Mais do que anseio pela luz

Tenho medo do escuro

E no escuro me encontro

Tenho medo da saudade

E é ela que me dói

Eu anseio por seu toque

Mais que anseio pelo som

Tenho medo do silêncio

E estou muda e surda

E cega porque não vejo o óbvio

E o óbvio me mata

Eu anseio pela paz

Mais do que anseio pela verdade

E o problema é que a verdade

Se esconde na mentira

De que não te amo mais

De que não te quero mais

Mentira que não engana ninguém

Mas disfarça meu anseio

E me cala com violência

A mesma violência do meu amor

Quero

Hoje
Quero viver o agora
Quero engolir o mundo
Quero que o mundo me engula
Quero você
E me quero em você
Quero o que temos
E não temo o que isso inclui
Ou exclui
Quero o que você quer em mim
Quero o meu eu que é dionisíaco
Quero que o Baco que mora em mim
Me domine
Domine meus sentidos
Domine meu querer
Quero beber e quero comer
Quero viver e deixar morrer
O que precisa morrer
O que não tem importância
E me importa apenas
O seu cheiro em mim

Não sou tua

Não sou eu
Eu mesma
Que te quer em mim
Sou menos eu
Às vezes
Quando te ataco
Só porque você não é meu
Mas meu
Como poderia ser?
Não sou tua
E ainda assim, sou
Não sou fácil
E ainda assim, sofro
Não quero mais
E ainda assim, te quero
Te quero em mim
Te quero tanto
E tudo o que quero
É inócuo
E independente
Do que queres tu

Seguir

Eu queria poder
E queria fazer
Mas não pude deixar
De notar e sentir
De chorar e mentir
De querer e temer
Mas com essa distância
Entre deixar e poder
Que posso fazer
Se não disfarçar e sorrir?
Com toda essa ânsia
De amar e querer
Que posso fazer
Se não apenas seguir?

Cruel

Não posso

Não quero

Te espero

E não posso

Mais esperar

Suspiro

E choro

E as lágrimas

Salgadas

Me dóem

E não curam

A minha saudade

Não curam

A vontade

Que não cabe

Mais em mim

Que não cabe

À mim

Porque não és meu

Porque não sou tua

Porque o tempo

É cruel

Como a vida


O fim

Não consigo escrever

Nem comer

Nem dormir

Estou desorientada

E desolada

E de um jeito

Que nem sei

O que sei é que sinto

Sinto de um jeito

Que não cabe em mim

Não quero dizer que não

E não posso dizer que sim

Mas saio de cena

Porque não me cabe mais

Continuar insistindo

Ou decretar o fim

Escrevo

Então escrevo
Escrevo porque me acalma
Escrevo porque minha alma
Depende de sentir
E não quero mais mentir
Pra mim mesma
Mas minto
Porque sinto
Mais que queria sentir
Porque brinco
Com o que posso
E não posso
Mais viver
Assim
Mentindo
Mentindo pra mim
Mas minto
Porque é demais
Porque o que sinto
Não pode ser